Arte e Amor - p04

— Não quero, deixa eu ficar em casa hoje. — peço manhosa, mas meu melhor amigo não para de puxar minha coberta.

— Não, hoje curtiremos. Trabalhamos por semanas e hoje vamos nos divertir, somos humanos! — Olhei para o Gui que estava impecável na sua calça jeans, camiseta polo azul-marinho escuro e cabelos penteados formando um pequeno topete na frente loirinha.]

— Nossa, você é muito chato, não quero ir. Tô cansada! — Continuo resmungando. Mas não adiantou muito já que o homem de 1,88 me pegou igual saco de batata e me arrastou para a porta da frente.

— Você vai, nem que for com esse pijama horrível. — Ele disse convicto e bufei.

— Ok. Ok. Vou me arrumar criatura. — Ele me colocou no chão e olhei para sua cara, que estampava um sorriso enorme.

— Te espero. — Revirei os olhos e fui para o meu quarto à procura de alguma roupa. — Ei, coloca algo bonito. — Guilherme grita da sala.

— Não fode! — Gritei de volta e ouvi ele gargalhar.

Coloquei um body de renda preto, uma calça jeans e uma botinha de cano curto de salto alto. Deixei meu cabelo solto, e modelei meus cachos, passei delineador e um rímel, batom vermelho e estava pronta. Peguei uma bolsa preta e coloquei meu celular, batom e minha carteira.

— Uau, tá gatinha. Pegava. — Gui soltou assim que sai do meu quarto.

— Cala a boca idiota. Você é gay. — E ele começou a gargalhar.

— Sempre esqueço desse detalhe.

— Pois vou te lembra sempre que soltar essas piadas. — E saímos nós dois rindo.

Chegamos na boate o Gui marcou com os amigos coreanos. E estava até legal o negócio, só estava meio estranho, porque o cara à nossa frente estava quieto, de máscara e falava pouquíssimo. Até cheguei a perguntar para o meu amigo, quem era o misterioso, e ele simplesmente disse ser o irmão de um dos amigos. Todos conversavam e bebiam, além de rirem altíssimo e hora outra, corriam para a pista de dança. Eu mesma fui arrastada várias vezes pelo Gui. Mas o garoto misterioso, continuava na dele, e ele só levantava a máscara por baixo para tomar bebida no canudo. No entanto, tinha algo nos olhos, que me transmitia familiaridade. Eu já os havia visto em algum lugar, mas não saberia dizer onde.

— Ei, meu amigo tá afim de você. — Comentou Guilherme e olhei para ele confusa.

— Nem vem. Não vou transar com nenhum asiático tarado por brasileira. — E meu amigo me deu um tapa no braço de leve.

— Para de ser rabugenta. Ele é legal. — Ele disse e arqueia a sobrancelha. — É o cara de blusa verde.

Juro, de todos que estavam naquela mesa, entre os homens e mulheres, poderia ter sido qualquer um. Até o menino que falava nada, mas tinha que ser justo o cara que era idiota. O imbecil já tinha feito umas piadas idiotas a noite toda e ainda havia falado do meu cabelo e como eu fazia para pentear ele, já que era comprido.

A vontade de socar ele ficou evidente em minha cara, mas a menina que estava na mesa, disse que ele fazia isso para chamar a atenção de quem ele queria pegar. Aquilo fez todos rirem e deixar no ar o que o imbecil queria. Passar a noite comigo.

— Manda ele curtir a noite com a mão dele. — Respondi e Gui me belisca na barriga.

— Chata.

— Realista! — Ele revirou os olhos. Ele já estava alegre demais, para estar me jogando no colo de alguém que nem conhecia. Sóbrio é que não estava.

— Ei, nada de ficar falando no idioma de vocês. Não entendemos. — Um dos caras disse.

— É que estou falando para ela…

— Moço misterioso, quer sair comigo daqui? — Perguntei para o cara na minha frente e ele arregalou os olhos. Pelo menos foi o que consegui enxergar naquele meio escuros com luzes coloridas. Estava orando para ele dizer sim. E uma força de Deus, ele aceitou. Nos levantamos e saímos daquele lugar lotado de gente. Olhei uma última vez para a mesa e todos nos olhavam.

— Muito obrigada! — Disse assim que estava do lado de fora. — Meu amigo passou do limite.

— Não tudo bem. — Ele disse e respirei fundo.

— Não gosta muito desse tipo de lugar né? — E ele confirmou com um balanço de cabeça. — Somos dois, uma coisa é sair com os amigos e sentar para comer e beber num lugar tranquilo, outra é ir para um lugar desses, que a cabeça parece que explodirá de tantas luzes coloridas e música que estoura os tímpanos. — Ouvi ele ri.

— Verdade, prefiro um lugar mais tranquilo para sair com os amigos. Apesar de eu não ter muitos. — E senti pena dele por alguns minutos. Eu era assim também, tinha somente Gui de amigo, os outros que tinham era apenas colegas.

— Sei como se sente. Não tenho muitos amigos, só tenho o Gui, na verdade. — Comentei. — Aliás, ele me contou que você veio arrastado para cá pelo seu irmão.

— Meu irmão queria que eu viesse, porque queria se divertir comigo. Mas não rolou muito. — Ele comenta olhando para a avenida à nossa frente, vendo os poucos carros passando, e fiz o mesmo.

— Vim arrastada pelo Gui também. Apesar de estar me distraindo bastante, queria estar em casa quietinha. — Ele riu.

— Queria estar assim também. — Ele comentou e começamos a rir.

— E para melhorar, Gui queria que eu passasse a noite com o carinha de verde.

— E não vai.? — Perguntou e neguei com a cabeça.

— Muito idiota para meu gosto.— E ele riu mais uma vez.

— E qual na mesa te chamou mais atenção?

— Você — O silêncio se instalou e eu ri. — Você é o único que estava quieto, falava pouco e quando falava, não saiu nada de idiota. E pelo que percebi, foi o único também que não riu quando o idiota de verde falou do meu cabelo.

— Porque não é legal zombar da aparência dos outros. — E olhei para ele admirada. Não era todos que pensavam daquela forma.

— Concordo com você.

— E eu achei seu cabelo bonito. — E ele desviou os olhos do meu e eu ri.

— Obrigada, Mr Mysterious. — Rimos — Aliás, já nos vimos antes? É que seus olhos me parecem familiares.

— Sou o cara que você ajudou com os papéis. Do ombro enfaixado. — E então uma luz iluminou minha mente.

— Meu Deus, que coincidência.

— Demais. Te reconheci assim que entrou com o Guilherme.

— E, por que não me falou que era você?

— Ah, não sei. Vai que você não quer falar comigo.

— Jamais faria isso. — Coloquei a mão em seu ombro, virando para mim. — Por favor, fale comigo da próxima vez que me ver. Não sou esnobe e muito menos chata… pelo menos eu acho. — Ele riu.

— Ok.

Ficamos quietos, apenas encostados na parede do lado de fora da boate, e apesar da música lá dentro estar super alta. Ali onde estávamos, era silencioso e calmo.

Arte e Amor - parte 4
J.Lis


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